Lembraste do dia que fomos passear à Foz? Foi um dia lindo. Decidimos à última da hora. Aliás como acontece indefinidamente. O lado instintivo e natural sempre nos correu nas veias. O fazer por fazer. Só e simplesmente porque nos ocorria. Simplesmente porque apetecia. Simplesmente porque sim.
Apanhamos o metro para a baixa. Era um dia cheio de luz. O Sol tentava acorrentar-nos os olhos, e mesmo assim ficava-se só pelo ensaio. Não os fechávamos porque eles já se tinham deixado conquistar pela felicidade, e ela é mais forte, mais firme, fiel.
Sentamo-nos na esplanada de um café com pinta, virados para o Douro.
Lá ainda era tudo mais bonito. E ainda hoje me pergunto se não era só por estares ali. Pediste uma frize de limão e eu um café, como faço sempre depois do almoço. Fumei um cigarro, e tu nem reclamaste. Levantamo-nos e passeamos muito. Conversamos mais ainda. Falamos de tudo e de nada e de nós. Lembraste-te de levar a máquina e apenas me o disseste quando entardeceu, para só tiramos fotos no pôr-do-sol. Unicamente por eu sempre dizer que ficavam mais bonitas. E ficaram mesmo! Ficamos a olhar o infinito durante tempos, brincamos e doeu-me a barriga de tanto ri.
Passou a hora do jantar e nem notamos, e tu que gostas quase tanto de comida como de mim. Quase. Jantamos, então, mais tarde, por lá. Comemos imenso e bebemos cerveja, porque nenhum de nós aprecia vinho. Passamos o jantar todo a trocar miminhos, sob o olhar atento de um casal de velhinhos que olhavam para nós com a ternura de uma vida. O reflexo da deles, seguramente. E logo eu, que adoro casais com rugas apaixonados. Ironias, hã?
Ouvimos boa música, dançamos e voltamos para casa. Há coisas interessantes para se fazer numa casa vazia, só nossa. Mas aquela noite não precisava de mais nada para ser perfeita.
Adormeci no teu peito, com a tua mão a fazer cafoné no meu cabelo. Ainda te ouvi a dizer baixinho a palavra mágica, já a pensar que eu dormitava – E eu sei que nunca adormeces sem a certeza de eu já ter viajado para o Encantado primeiro.
Vieste para junto de mim minutos depois. E dormimos descansados, despertávamos durante uns estreitos momentos só para mudarmos de posição e mesmo assim continuavamos abraçados, a noite inteira.
Lembraste deste dia? Eu respondo: Não, porque ele não aconteceu.
E mais.. Sabes quantas vezes vieste aqui? Eu respondo: Não vieste.
Há 3 anos
4 comentários:
Que saudades de te ler assim..que bom!
Leva nota máxima, este. Beijo*
Nem em parte aconteceu?
Nem um dos fragmentos retratados realmente viveste?
Agora fiquei confusa.
E o desfecho do texto deixou-me, digamos que, atónita.
às vezes, tenho dias com partes assim... é so puxar por eles :)
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