segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Não é?

Dizes que há sempre uma noite mais escura do que a escuridão do mundo. Será?
Mas nada é demasiado para uma mulher! Nem mesmo a última chama do último fósforo que anima o derradeiro olhar do nosso único amor.
Há apenas dor. Cintilando como um clarão no chumbo do céu, chuva de estrelas cadentes sem História nem mártires reconhecíveis. Sim! Há sempre uma noite mais escura do que a escuridão do mundo. Mesmo para quem, como eu, como tu, nunca soube escavar até ao fundo dessa gruta negra, transiberiana, húmida, universal, a quem chamamos coração.
O corpo já não te faz falta.
Pensa. Pensa comigo! Também haverá uma manhã mais luminosa que a luminosidade do mundo.
Não é?

Assim, fácil

No fundo, adoro isto!
É o ter e o não ter. O sentir e o não sentir. O querer e o não querer.
Os dias que são sim. E os dias que são não. Os que são tudo. E os que são nada.
É esta indecisão constante. A adrenalina louca. Esta agressividade. E a ternura.
As verdades duras. As palavras carinhosas.
O receber e o não dar. O dar e o não receber.
É o que eu quiser, como eu quiser.

Chegar e partir

Todos os dias é um vai-e-vem. A vida repete-se na estação. Há gente que chega para ficar. Há gente que vai para nunca mais. Há gente que vai e quer voltar. Há gente que vai e quer ficar. Há gente que veio só olhar. Há gente a sorrir e a chorar. E assim, chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O comboio que chega é o mesmo comboio que parte. A hora do encontro é também da despedida. A plataforma desta estação é a vida deste nosso lugar. É a vida deste meu lugar. É a vida.
Fica.
Nos não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.
Almada Negreiro